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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ao Escrever sinto-me terra...A TERRA

Há uma terra onde todas as letras contam e contam e mais que isso, são tão importantes como a água, aliás, são a própria água. Porque nessa terra que falo, as palavras bebem-se aos goles e cada letra é um gole que não mata a sede. Mas há quem junte as letras na mão, como se num copo, e sacie a sua sede com o que resulta desse ajuntamento, as palavras, as frases e até pequenos textos. Há ainda quem as beba por prazer, e quem se satisfaça simplesmente a molhar os lábios .Há nessa terra que escrevo, imensos lagos de letras, correm rios e mares salgados ou doces.
Letras...Uns tiram-nas da torneira, outros, compram-nas engarrafadas ao litro. Há também nessa terra, letras em lençóis por baixo dos nossos corpos, em tapetes por baixo dos nossos pés e há letras que simplesmente caem do céu, dispersas como gotas sem sentido aparente. Não parecendo ao princípio, veremos, se formos pacientes, como essas gotas dispersas se organizam e tornam coerentes. Como se juntam em pequenos regatos com muito para nos dizer.
Há nesta terra que falo e me fascina, quem viva só porque as letras estão ali para serem bebidas. Alguns há, que ganham a vida a juntar essas gotas. Assim como também alguns que são capazes de transformar um simples orvalho matinal num riacho fresco em pleno verão. Outros, só alguns, poderão domar um oceano tempestuoso e conseguir dar uma volta ao mundo numa jangada feita de frases. Porquê?
Porque os homens são feitos de letras, mas não são capazes de se ordenar em palavras. Uns são apenas vogais, definem-se em cinco pancadas, sem sequer mexer a língua. Outros, consoantes, são sofisticados e sem complexos vernaculistas, usam o "capa", o "dâblio" e o "ípsilon", ou ainda aqueles mais apegados à tradição, que tanto se lêem com «cê» de cão, como com «sê» de sapato. E existem ainda os que se atrevem a misturar os estilos, a fazer sentido e a tentar descodificar os homens para dessa mistura conseguirem dar vida às letras para que as possam beber. Há, acreditem em mim, uma terra em que todas as letras contam, porque são tão essenciais e necessárias como o ar que se respira, são letras contadas, são gente, porque as respeitam.
Cada palavra é um membro integrante de cada homem, com veias, órgãos, ossos, músculos e sangue. Há até quem as junte num corpo e as veja crescer e ser gente…Pessoas. Há ainda nessa terra quem tenha tanto orgulho nas palavras que as escolhe para o seu próprio corpo e quem se contente somente com duas pernas, dois braços, um par de calças e uma camisola para os cobrir. Há quem seja letra, e quem muito queira ter letra.
Há vezes em que ao fecharmos os olhos a própria escuridão se torna letra. Outras há em que os sonhos são palavras e quando acordamos já de olhos bem abertos, a realidade são letras.
Porque o sonho é possível e a fábula é possível, por palavras, no escuro. E porque a realidade é inevitável, como os homens são inevitáveis também existem muitas letras dispersas, na claridade. Há uma terra em que o escuro e a claridade são um só, pois as letras são Terra água e céu em que os sonhos e os homens são palavras, porque é aquilo que os homens querem e as letras são somente o elo que os liga. E por ultimo, nesta terra que me sinto e de que falo, nunca ninguém morreu de sede. Nesta terra que me transformo respira-se ar fresco.
Pois se cada página é um rio, e cada linha uma brisa. Eu sou essa Terra !


Com amizade:

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