Não sei se vou continuar, se continuarei e por quanto tempo ...
Mas, deixo que o pensamento e um sentimento entre mil, simplesmente voe ...
Assim ...
Sinto-te que em cada palavra escrita, em cada letra escolhida, em cada inspiração e em cada instante meu. O teu corpo, que descubro com a ponta dos dedos que frenéticos te escrevem, e descrevem cada milímetro da folha de papel que és, suavemente perfumada.
Sinto-te o aroma que se mistura, e estranhamente se confunde com o incenso que me queima o ar, mesclando as noites com mil aromas. Esperas-me, sobre essa escrivaninha desarrumada, no entanto vazia, onde todas as noites, serenamente adormeces em sonhos embalados pelo cheiro da tinta e o pó do carvão com que te escrevo.
Chego pelo cheiro do éter todas as manhãs, e a minha respiração percorre-te suavemente, num todo, sentindo sem ter que te tocar, a macia e nobre lisura do teu papel. As minhas mãos percorrem o teu corpo que frio queima como se de fogo se trata-se, sinto-te e o meu corpo sente um estranho arrepio que se reflecte na pele, e descubro-me envolto na brisa fresca da manhã. Encontro-te no abraço apertado que ternamente penso em dar-te. Os meus lábios imaginam-se a suavemente beijar a tua textura, e os meus dedos procuram encontrar nos teus limites, a plena imensidão do prazer que sinto quando em ti escrevo, com a certeza, mais do que absoluta, de que irão ser recompensados.
No instante em que nos beijamos, com a intensidade que apenas a saudade de muitas vidas deixou em nós. Sinto-te, quando os nossos olhares se cruzam, e a minha boca ávida te devora num mágico momento. E quando de novo a noite cair, a lua irá certamente encontrar-nos, e adormecer-nos onde o sol nos despertou...
Dois corpos separados mas duas almas abraçadas, sobre as letras que constroem os textos que em confiança, deposito em ti até ao amanhecer...
Paulo Figueiredo
In Vitro 23/05/2014
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